Du, quem te escreve é
seu pai de 31 anos, provavelmente você não conhece essa minha versão e sim um
coroa grisalho, com problemas no joelho e coluna bem mais atenuantes que hoje,
com opinões muito formada sobre coisas que pouco vivência, recolido em casa e
em sua rotina. Mas eu fui sim cool, subversivo, e inquieto. Entre militâncias,
desobediências e viagens. Tudo num passado que você nunca viu.
E quando teu irmão
nasceu me veio uma vontade aguda de escrever sobre tudo isso. Quem eu fui, por
onde andei, que pessoas encontrei. Acho que bateu um medo de me resumir a um
pai mundano. Queria lhe dar de presente um pai dono do mundo. Porém, meu mundo
se compactou em nossa familia. Mergulhei em meio a fraldas, choros, ganhos pão
e aprender a dirigir. Não escrevi nada por anos. Por tempo nem escrever lista
de mercado eu escrevia. Percebi então, que quem eu era estava, de fato, ficando
para trás. Não conseguia mais acompanhar as noticias, não conseguia ver filmes,
nada. Deixei tudo que pude para ter tempo de ser pai. Não podia repetir a
ausência de meu pai. E que ótima escolha fiz.
No resto, fiz a
melhor que podia no momento. Tentei tomar a melhor decisão que pude. E assim
você nasceu na terra de sua mãe. E assim sua criação foi um resultado do que
experimentamos com a edução do Theo. Quando você chegou já encontrou uma pessoa
mais encontrada, mas não com menos questões. Sabe filho, ser responsável por
outras vidas me tirou dos eixos, de repente precisava prover uma qualidade de
vida melhor do que a provia para mim mesmo pra toda uma galera. O medo de errar
me fez ir pra onde sabia que ia acertar. Deixei pelo caminho o arriscado. O
resto era dar amor e paciência (não que consiga sempre).
Mas errar faz
parte, não saber o que fazer também. Pensei no banho ontem, o que de mais
importante queria proporcionar pra vocês dois, qual mensagem poética deveria
deixar nesse texto. E meio chapado de baixo d´agua desejei que mais do que
conhecer meu passado queria que vocês tivessem experiências parecidas. Corra
riscos meu filho, de todos os tipos. Na premissa de que não saber de nada, vá
atrás de saber, ver e interagir. E isso demanda riscos, sempre. E por favor nem
adianta esfregar essas palavras na cara do seu pai grisalho. É meu trabalho
temer as inconsequencias da juventude, trazer para a balança outros pesos. e
posso me perder nessas preocupações, mas no passado arrisquei, me expus, cometi
ilegalizadades, experimentei a liberdade. Quis mudar o mundo. E tudo isso me
levou exatamente aonde estou hoje, me fez dar ao mundo o que de melhor poderia,
vocês. E a vocês dei o melhor que tinha de mim, a liberdade e a coragem. Vai
filho, devora a vida e mude seu mundo.