terça-feira, 30 de setembro de 2008

Os cabelos desgrenhados II

O vento frio não deixava seus cabelos se decidirem entre penteados e despenteados. Ele carregava consigo a fumaça rala do cigarro bem tragado e trazia o frio, que não incomodava, pelo contrario, massageava a solidão dela.
Ela... Uma figura sentada a conversar com seu cigarro. A idéia de qualquer companhia que seja lhe causava desconforto, mas a do cigarro não, vê-lo ir embora lentamente a cada tragada lhe passava a sensação de que o tempo não havia parado, embora a sua volta todo indicasse ao contrario. Quieto e arrastado.
O tempo parara, o vento soprava e ela não sentia nada. Ouvia assim uma música sem compasso e letra, de menor importância que uma trilha sonora para momentos sem som. Era um acompanhamento para a solidão. Seguindo o descompasso da melodia vinham as lágrimas que escorriam por uma face plena, tão ilegível que não deixava qualquer pista da origem de tanto choro. Tudo corria por dentro dela, a mil, sem sair sequer uma faísca de tais pensamentos tristes.
O fogo chegava mais perto do fim. Acender outro cigarro aquela altura do campeonato era contrariar um sentimento. A brasa deu seu ultimo suspiro quando a noite se anunciara, fechando um ciclo. Não havia mais porque pensar, fumar, chorar ou lamentar o que não mais o é. Levantou se e carregou consigo os motivos que a deixaram melancólica presos na sola dos pés, como uma sombra. Pra onde fosse não seria diferente dali. Tudo são ciclos e caminhos por onde a tristeza a leva. Até um dia cessar.

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