sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

Conversas com Rubens - O ínicio

A primeira vez que fumei maconha foi aos 17 anos, um tanto quanto tarde para os padrões de onde vivo. Região de praias, uma delas muito conhecida pelo surfe. Aqui a muvuca é tanta que fica difícil distinguir os surfistas (cultuadores da natureza), os filhinhos de papai com suas costas quentes acima de qualquer lei e os de fato drogados. É tudo uma grande mistura que torna qualquer ideologia produto de moda. São poucos os que realmente escapam disso e se aprofundam em algum modo de viver e quando isso acontece normalmente são excluídos dessa patotinha. Ou eles mesmo se excluem, não sei o que acontece primeiro.
De qualquer forma, ninguém escapa. Todo mundo que vive por aqui já fumou maconha. Aquele gordinho ali no canto, que mal sabe segurar uma lata de cerveja, acompanhado de seus únicos dois amigos, já experimentou. Não dúvide. Até porque, como eu dizia, o ambiente praieiro, a policia inexistente e o acesso fácil fazem qualquer hora e lugar ideal para se começar, continuar e nunca parar.
Mas mesmo assim eu comecei tarde. Quando muleque nunca me imaginei fumando. Na verdade, eu era tapado pra muita coisa mesmo. O sexo, as drogas e as outras coisas boas da juventude chegaram a mim quase juntas, numa bola de neve dessenfreada que me deixou até tonto. Aos 16 anos eu havia esse outro mundo nos minhas mãos. E ai nada mais do que eu imaginava estar fazendo quando criança tinha graça.
Eu tinha minha primeira banda na época, afinal o rock não poderia ter faltado as novas descobertas. E de um mês para o outro nasceu minha curiosidade para a erva. Fumei a primeira vez com a minha namoradinha da época. Ela tinha como conseguir, sabia despelotar, enrolar e sua casa quase sempre estava vazia (Graças a essa casa vazia não foi apenas a maconha que conheci).
Nada senti na minha primeira experiência. Nada mesmo. O que é muito normal para falar a verdade. Além disso nem cigarro eu fumava naqueles tempos, nem os tão famosos gudangs (cigarro mais forte que o normal contrabandeado sensação entre esses mesmos jovens praieiros filhinhos de papai). Então vai se saber se traguei direito. Depois desse dia, nunca mais se falou de maconha entre o casal.
Se passaram seis meses até que eu tentasse de novo. Dessa vez foi com um amigo de infância e sua namorada (bem mais velha que nós). É engraçado como a sujeira que a droga trás contamina toda sua infância, alguns outros exemplos fortes ainda vou contar. Mas esse amigo realmente cresceu comigo, cada passo de nossa juventude demos juntos. Começamos a beber juntos, fumar juntos e nada mais justo que começar a se drogar juntos. Na realidade há um terceiro cara que compõe esse trio de amigos de infância, mas nessa primeira vez ele não estava (entretanto não demorou muito para apresentarmos a maconha a ele também). A namorada mais velha foi nossa sorte. Ela carregava consigo toda a experiência de rata velha de praia, daquelas que no ápice de larica tirava da bolsa um chocolate e nos dava um importante conselho. "Nunca mais esqueçam de trazer algum doce quando for fumar".
Dessa vez fumamos na praia, local que mais tarde seria o QG da trio de amigos. Falo sem dúvida que foi minha melhor onda até hoje. A droga é traiçoeira, qualquer uma delas é assim. O vicio é sua eterna procura em superar a melhor onda que você já teve, que nunca deixará de ser a primeira. Eu acho que é isso que separa quem vai virar maconheiro e quem não vai passar do “Eu experimentei”, a primeira vez. Quem só experimentou pode ter certeza que não sentiu a onda de verdade.
Só sei que aquela noite foi inesquecível. Tive todas as sensações que a droga pode te dar de uma única vez. Hoje as sinto meio separadas, uma por vez e mais fracas. Mas não naquela noite. Aquela noite eu comi a melhor pizza da minha vida, tive alucinações, vi, senti, pensei de formas que nunca tinha antes. E tudo muito bem guiado pela instrutora mais velha. A euforia foi tanta que tive que descrever o que senti num texto, ele existe, pode procurar. “A descrição da segunda vez”.
Da segunda pra terceira demorou mais alguns bons cinco meses. Da terceira pro quarta, talvez uma semana e daí por diante eu já era um maconheiro. Mas isso fica para outro texto.

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