O carro era preto, embora Sávio preferisse carros brancos. Aqueles que quanto estão limpos e brilhando aparentam valer três vezes mais que realmente custam; Um carro preto sempre será um carro preto. Mas na loja só havia esse. O que Sávio poderia fazer? Por aquele preço ele não acharia nenhum tão bom assim. Era capaz de ir ao banheiro e perder a compra, só depois de sair do vaso veria a merda que fez. Sávio segurou a vontade da natureza causada por um podrão da noite anterior misturado com todas aquelas doses que bebeu na mesa do pôquer e comprou o carro.
Um four de reis. Um para cada roda cromada com garantia de dois anos. Sávio havia tirado a sorte grande naquele jogo. Ele havia entrado naquela mesa por destino. Com três grã-finos sentados em suas cadeiras aveludadas. E lá pela quinta abertura da rodada de fogo ele entrou com tudo. All in. Foi seu primo, orgulho da família, que não pode comparecer ao pôquer com os amigos naquela sexta e convidou o único parente louco o suficiente para aceitar apostar com caras como aqueles para substituí-lo. Sávio teve que vender seu relógio, um quadro e os tênis mais caros para entrar no jogo de igual para igual. Vestiu um terno do primo, passou gel, conseguiu um óculos sem grau para compor o personagem. Só não fez a barba, afinal eram somente homens e não um encontro com a Juliana Paes. Porém, no final, ele gozou ainda mais.
O carro preto tinha banco de couro, direção hidráulica, motor medido em cavalos garanhões, rádio que termia os vidros e um belo GPS como cereja no topo do bolo. Mas que se mostrou bem útil para quem só conhece as ruas em que os ônibus passam. Qualquer lugar mais longe de casa Sávio logo ligava o GPS todo orgulhoso ou quando já havia ligado o ar-condicionado, o rádio, o massageador do banco e ainda queria se exibir mais. Era o orgulho do papai. Sávio ia para todo lugar com ele. Padaria, locadora, casa do primo para devolver o terno. Quisera ele ter mais ternos para devolver para ele todos os dias.
...
Continua
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