Todos os dias morrem pessoas na cidade. De dia não, ao contrário, de dia as pessoas apenas deixam pra lá essa coisa cansativa de viver. Pois veja, esta noite alguém morreu e eu sei quem. José Carlos de Abreu faleceu de falência múltipla dos orgão. Nem o orgão de saúde, nem o orgão de segurança puderam lhe ajudar. A situação era caótica. Até o orgão de cultura da cidade não soube explicar como aquilo aconteceu.
José era um artista. Era, mas nunca foi. Queria ser um pianista conhecido. Tocava seu orgão dês do treze anos, quando descobriu uma pilha de revista em baixo da cama do irmão mais velho e começou a tocar por instinto. Compôs várias músicas, homenageou várias musas, mas foi traído pelo seu ímpeto e morreu do coração ao ser esmagado por um orgão que caiu do sétimo andar. Um orgão privado, mas o público logo parou para ver o acidente.
E que belo acidente! Com trilha sonora e destroços de madeira por todo o lado, tudo que se via de José era seu braço entre as cordas, segurando um pedaço de papel. Nele havia a lista do mercado.
Pão, leite, ovos e ração para o gato.
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