É minha boa gente, como já dizia a letra daquela música que poucos conhecem: “Gente como eu não deveria ir a praia/ é um insulto a quem todo dia malha”.
Portanto abra bem o olho e não confunda boa gente com gente boa. São duas coisas totalmente diferentes. Assim como gente bonita e o bonitinho da mamãe. Cá entre nós, não é preciso nem explicar a diferença. E se nem da vovó for bonitinha vai ficar é pra titia mesmo. Mas vamos voltar ao foco. Se me permitirem vou filosofar sobre o assunto, que não é só coisa de gente fina não, gente acima do peso também consegue ter esse dom. Até porque, pra mim, papo na mesa do bar não é conversa fiada não. Já na mesa de restaurante fica um pouco mais complicado.
De qualquer forma, o mundo esta escasso de boa gente como nós. Incluo-me nessa patota logo, afinal a crônica é minha e coloco nela o que bem entender. Foi se o tempo das pessoas educadas, dos verdadeiros cavalheiros, da época que elegância e educação andavam coladas assim ó. Hoje, a educação já não é tão bem vista assim. Não chega a ser deixada de lado, mas é uma obrigação que te aborrece. Atualmente ser boa gente é como ser o mais alto dos sete anões, não é lá grande. Se é que você entende. Não há reconhecimento algum, nem dos próprios anões. Mas para mim esse papo de que tamanho importa é invenção do namorado da Branca-de-neve que adora fazer trocadilhos com seu calçado quarenta e cinco.
Um exemplo dessa tese de botequim é quando um idoso entra no recinto e todos os lugares estão ocupados por jovens moderninhos cheios de vigor. O velho tose, esperneia, treme as pernas como se não fosse agüentar mais um segundo em pé e a situação fica constrangedora. Os acomodados se olham sérios. E inicia o desafio de quem vai ceder primeiro. O tempo vai passando e começa ficar feio para todos que ainda estão sentados. O velho tose mais uma vez e reclama que esqueceu a bengala em casa. O jogo segue adiante, como um racha de carros nos anos sessenta em direção ao penhasco, dirigidos por James Dean e outro boa pinta qualquer. Quem vai ceder primeiro antes que a moral de ambos caia? Antes ela do que meu assento.
Sendo assim, a nova tendência desse verão-primavera é ser gente boa. Como já disse antes, isso é bem diferente de ser boa gente. É bom explicar antes que alguém confunda barro com merda. Agora o que é barro e o que é merda só o paladar nos dirá. O único lugar onde essas duas formas de vida conseguem ser encontradas convivendo na mais perfeita harmonia é na novela de Manuel Carlos ou Maneco para os metidos a besta que se acham íntimos de celebridades. Às nove horas da noite minha televisão se empesteia de seres charmosos, cheios de classe e freqüentadores do Leblon (aonde se vai à padaria com roupas que eu usaria para sair à noite). Até mesmo o vilão consegue arrancar suspiros de se invejar, além do que, como todos sabem, o lobo mau só não come ninguém porque é muito feio. Mas apesar de tanta beleza os personagens mesmo assim são simpáticos e educados. Coisa de novela, sabe como é... E ainda tem a pachorra de dizer que imita a vida cotidiana.
Esperta é minha sobrinha. Enquanto eu quando criança queria apenas ser um boa gente como os heróis de desenhos da Disney, o sonho dela é entrar na novela dos oito (que passa as nove) e ser logo as duas coisas. Ignorando os escândalos denunciados por gente de bem no jornal nacional que passa antes da novela e a real natureza humana praticada pelos galãs dos filmes do tela quente que passa depois. Penso em como os desenhos animados me limitaram. Se eu tivesse me preocupado mais com a aparência ainda criança poderia ter feito um bom tratamento dentário, me acostumado a usar lentes de contato e a fazer exercícios físicos. Quem sabe hoje eu poderia ser até um Zé Mayer, conquistar umas Helenas nas horas vagas e ser comentando no Twitter.
De qualquer foram, permitam-me mais alguns versos daquela música que deviam tentar conhecer. “Gente como eu serve só para comparação/ O carinha que se acha já vem com essa intenção/ Se vira para a garota dizendo a sorrir/ eu sou muito mais bonito que esse cara ali”.
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