sábado, 26 de setembro de 2009

Que coisa linda que escrevi

Agora escrevo para passar o tempo. A caneta parece deslizar pelo papel mais suave do que eu pelas ruas. Onde a madame passei com seu mascote, onde o sujeito barbudo caminha até em casa e onde o vagabundo carrega a sua nas costas. O cachorro parece não entender a importância que tem na vida daquela mulher sem o amor do marido. O trabalhador percebe cada vez mais a importância de estar em casa com a família, a cada hora que passa o dia. E o mendigo sempre soube que não tem importância nenhuma.
O céu já perdeu sua cor e agora é só negro. O agasalho que pesava na mochila dos que atravessam a rua agora está cobrindo o corpo. A sensação de dever cumprido se mistura a preocupação das tarefas de amanhã. E o homem sujo vasculha o lixo, come o que seu oufato não discarta e ignora o paladar. O poodle até queria lhe cheirar, balança o rabo num gesto de confraternidade, mas a dama o puxa para a outra calçada. Já o homem que está atrasado para o jantar continua no caminho sem nem parecer notar. Não por maldade, mas por comodidade. Com um sorriso incompleto, o miserável pergunta por algumas moedas, que lhe são negadas a existência num bolso vazio de esperança, mas com um maço de vinte alívios tragaveis. A boca de vente dentes aceita aliviada. Pois conseguiu algo para a manter ocupada.

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