Nesse apagão senti uma grande vontade de sair as ruas. Minha casa no escuro continua sendo minha casa. O mundo lá fora qye estava diferente. A confusão, o caos, a desorientação quebravam paradigmas sociais. A cidade no escuro é outra cidade.
De repente os ônibus não paravam mais, afinal não viam bem os vultos de quem estava nas calçadas, iluminados por frações de segundos pelos faróis dos carros. Os poucos que paravam ainda perguntavam para onde íamos. Certos lugares estavam inacessíveis, as rotas mudavam de hora para outra, de cabeça quente. E alguns lugares custavam mais caro que a passagem comum. tudo decidido pelo recente todo poderoso motorista, dono de seu veículo, incomunicável com a central.
No bar foi preciso negociar. A geladeira não podia ser muitas vezes aberta e era pedido pelo garçom que calculasse entre os presentes na mesa quantos copos cada um conseguiria beber antes da cerveja esquentar. Criando assim, o número de garrafas certas para se trazer à mesa. E mesmo assim, foi preciso esperar dez minutos para a próxima rodada de abrir a geladeira. Eram três para esse único trabalho, gritando na correria para tirar trinta litrão no menor tempo possível. Um tira, passa ao próximo que conta e o terceiro separa. A noite era quente e o bar estava cheio de pacientes por uma gelada.
Lá pelas tantas, quando a escuridão e a embriagues já estavam tendo um dialogo legal, a energia voltou. Alguém no bar chegou a comemorar, mais ainda os que tentavam dormir nas casas em volta do bar sem o ventilador. Juro que pude ouvir alguém batendo palmas de alegria de dentro do quarto.
Fui embora sem o ônibus. A pé mesmo, com o caminho iluminado. E fui dormir já com o ar-condicionado.
Um comentário:
vc diz q esta fazendo cinema, e é tão bom como muitos atores. mas mts pessoas dizem que na hora H vc só faz incenação e no final se perder do roteiro e o "filme" fica cheio de defeitos.
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