Back to 901

Esses pessoal do 901 não sabe conviver em sociedade. Vivem como bichos sentados no chão, nem um sofá eles se prestam a comprar. Aposto que não trabalham, e se trabalham devem gastar tudo nesses noites que saem. Voltam sempre pelas quatro horas da manha e voltam a sentar no chão. Acendem sempre um incenso de cheiro estranho e é sempre ele que me acorda. Confesso gostar do cheiro, mas logo começam as conversas e as risadas. Gradualmente mais altas. E debatem sobre tudo altas horas da madrugada. As noticias do dia que ninguém lê, a existência do ser ou que horas vai passar aquele programa do chaves na tevê. Andam de um lado para o outro, da cozinha composta só por copos de plástico, a sala com duas cadeiras de praia e uma televisão, o quarto com um colchão de ar e o banheiro de duas toalhas. Parecem felizes em tais condições deploráveis. Cumprimentam a todos no elevador, ajudam dona Ana a atravessar a pátio com suas muletas e levam as sobras de comida para dar na rua ao primeiro que lamber os lábios com o cheiro do lanche digno dos miseráveis.

Eles parecem ali sentados no pátio a luz do luar uma caravana que voltou são e salvos do mundo cão lá de fora. Escondidos do sol e dos que agora dormem. Aproveitam um mundo bem mais moldável ao seu prazer através dos goles de bebida, música alta e refrigerante de cola. Tranquilos por voltar ao chão livres para viverem a alegria que é ter o seu refugiu.

Esse pessoal do 901não sabem quando acabou um dia e quando começou outro. Mas sabem exatamente o que querem pra amanha.