segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

Natal é como carro velho, só dá trabalho

Só conheço São Paulo em vésperas de Natal. Por isso essa cidade me cheira a naftalina natalina. As luzes se confundem com os pisca pisca e os votos sempre vem acompanhados do sufixo “meu”. Os paulistas que andam pela rua nessa noite são todos estranhos e atratativos. Só me sinto a vontade olhando de longe, assim como aqueles papai noeis de shopping centers, pedindo para sentar no colo.
Enquanto vou até a casa de minha tia, onde toda a família se encaminha, vejo o comercio ainda fechando. São Paulo não dorme, só não consegue controlar a debandada dos que trampam sonhando em um dia ser patrão. Mas o Natal apenas presenteia com um descanso. Fora os que caminham com pacotes embrulhados em baixo dos braços a esperando o ônibus passar. Apenas meninos perdidos andam pelas calçadas, fugindo da casa de suas tias, com garrafas de bebidas no lugar de presentes de amigo oculto.
Minha família grande só se junta assim no fim de dezembro. Seguem a risca a lista de brincadeiras e cumprimentos para não deixar o ambiente em silêncio. E todos riem. Alguns porque de fato se divertem como quem revê seu filme predileto pelo vigésima vez, outros por estarem no quinto copo de vinho.
O tio mais burguês fotografa tudo com sua câmera que também filma. E depois ninguém nunca mais vê essas fotos. Há provocações futebolísticas, há provocações de duplo sentido e a ceia é servida. Rezo junto com todos o único Pai Nosso que recito o ano inteiro, mas nunca me esqueço.
O pavê de chocolate da avó. O namorado novo da prima. O choro de mais novo quando vê o papai Noel. O presente em dinheiro da madrinha indecisa. Os fogos do tio burguês. A garoa de São Paulo. Peles mais brancas que a minha. A fofoca da mulherada enquanto as crianças caem de sono e os maridos ensaiam uma despedida.
Na esquina, jovens cheiram um pó branco como neve. As garrafas já vazias.


Esse natal centenas de paulistanos pegaram a marginal tiete para deixar a cidade. A maioria continua por lá.

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