quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

Telefone branco

Em havana um telefone toca. Che fumando um belo charuto atende.
- Che?
- Sim?
- Preciso falar contigo.
- Pois diga.
- É que sabe... Eu ando tendo problemas com a minha mulher. Tenho dormido no chão.
- Ela te expulsou da cama?
- Desdê que virei socialista.
- Mas o que ela tem contra o socialismo?
- Não, não. Ela é gente finíssima. Não tem nada contra o socialismo. ela tem contra mim mesmo. Reclama que sou muito preguiçoso, que não faço nada desdê que a greve começou.
- Você é operário então?
- Sim, sim. O trabalho lá era muito duro. Vivia inventando uma gripe, a morte de um parente pra faltar. Ai quando lançou essa nova moda das greves logo entrei nessa de ser sindicalista.
- Bueno.
- Mas ela não curtiu a ideia. Sei lá... Não sei se é a barba que incomoda ou se não gosta quando dou boa noite companheira para ela antes de dormir. O fato é que tem alguma coisa errada com isso aí.
- Você quer dizer com o comunismo?
- É, é... Ela não vai com a cara de nenhum amigo sindicalista que trago pra casa. Reclama da falta dos produtos importados no supermercados. Desdê que Cuba parou de importar o condicionador americano que ela usava diz que não vai mais sair de casa.
- Mas companheiro...
- E quem tem que aguentar ela no ouvido sou eu.
- Mas é preciso de alguns sacrificios materiais pela revolução. Ela tem que entender isso.
- Você só pode estar brincando. É casado Che?
- Isso não muda nada.
- Olha que eu nem comecei a falar sobre a minha sogra.