Eu deveria ir lá conversar com aquele menino sentado sozinho na calçada, brincando com as pedras do chão de forma sem graça, arrastando os pés na terra áspera. E se eu perguntasse como é essa dor do fim do primeiro amor? Que hoje acho tão difícil de recordar. E se ele me contasse detalhes com amargura no olhar? Se o garoto que aprendeu o que era amor vendo novelas me dissesse desacreditar que se apaixonará por uma nova garota? Deveria eu dizer que sim ou que não?
O garoto tem uma cicatriz no joelho idêntica a minha, agora velha e distorcida. Amarra seu tênis de forma errada como eu fazia. Não penteia o cabelo e estala os dedos de uma maneira que faria minha mãe reviver calafrios. Ao seu lado me mantive calado e percebi que podia lhe adiantar certas descobertas minhas. Deveria lhe dizer que ela foi só a primeira de muitas? Muitas que irão lhe desapontar. Deveria contar que amará tantas outras que essa irá sumir da lembrança? Deveria eu lhe descrever meu reencontro com meu amor de infância? De como ela era outra pessoa. Deveria dizer que ele também será outra pessoa? Duas pessoas novas que se apaixonam. Uma paixão nova. Deveria eu alimentar tais venenos? Só por causa do que eu vivi.
Contar a paixão enorme que tive por ela? E que o primeiro amor nunca se acaba? Ou será que isso sim temos de diferentes? Acho que vou lhe dizer que aquele sentimento de que ela é única é verdadeiro e que a dor dessa partida nunca será superada ou curada. Não é exatamente isso que lhe parece agora? Mas que ela vai voltar e você vai viver a melhor fase de sua vida com ela ao lado. Descobri-se e forma-se. Isso ajudaria essa dor diminuir?
Acredite pequeno eu. Esse medo do futuro não é preciso. Nada do que choras agora é eterno. Exceto essa pequena sensação de que o infinito também tem o destino de acabar.
Deveria eu contar que estou sentado aqui pelo mesmo motivo que ele?
4 comentários:
isso dá um filme, hein?
;) (pisc)
Que bonito, dá filme mesmo. A dor da quebra do eterno no primeiro amor parece insuperável. Até que.
bela história !
amor e dor ... amor.
te amo!
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