O ventilador no teto ventava leve, fazia o tic-tac ausente do relógio digital e pouco dispersava a fumaça presente por todo o cômodo. Móveis combinando em cores mortas. Havia montado a cópia perfeita dos escritórios de detetives particulares de filmes. Mesmo que em P&B. Até pintei meu nome na porta. Detetive Hermes. Orgulho do papai.
Naquele dia eu jogava cartas como todo bom investigador. Sou fera em paciência do windows. Quando a alguém bateu na porta. Poderia dizer que era uma linda mulher viuva, a procura do assassino de seu marido, mas aberta a um caso intenso com um detetive másculo. Mas a porta era de madeira. Aquelas de vidro são caras demais. Abri. Não era uma mulher. Era Justino com seu uniforme de porteiro do prédio. Entrou afobado, falando rápido em seu porteirês. Não entendi uma única palavra. Pedi que se sentasse. Ele sacou seu maço de derbi e eu ofereci meu isqueiro.
-Quer um também doutor?
-Eu não fumo.
Ele encarou a fumaça intrigado.
-Eu gosto muito de incensos. - expliquei.
-Com cheiro de cigarro?
-Incensos de tabaco.
-Tabaco?
-Sim.
Recomendei que contasse logo a que veio. Conta, aviso de despejo, o quê?
-Tenho um caso para o senhor.
-Caso?
O trabalho sempre vinha das ocasiões mais inesperadas. Como no meu primeiro caso. E esse sendo o segundo só comprova minha teoria. Ah! Mas o primeiro caso a gente nunca esquece, embora eu não lembre muito bem. O caso do sumiço da tampa da pasta de dente. O tempo corria contra mim, a qualquer momento a pasta poderia secar e criar aquela pedrinha que entope tudo. Mas eu achei. Eu sempre acho.
-O elevador sumiu doutor.
-Sumiu?
- Sim. Já procuraram em todos os andares. Pode chamar que ele não aparece. Sumiu de vez.
Era mais sério do que pensava. Não me escolheram por menos. Até porque meu escritório ficava só no segundo andar e meu pagamento era quitar dois meses de aluguel atrasados.
Estava pronto para começar.
Continua...
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