quarta-feira, 3 de março de 2010

O uso do cadarço de tênis

Marcamos de nos encontrar na rua das farmácias. Por dias não se conseguia nada nas ladeiras da Lapa. E amigos que só conhecíamos por apelidos vieram de mão vazias e cabeças arriadas. Sabíamos do risco, sabíamos do vicio. Sem passeatas para participar, aglomerações para protestar, palavras de ordem para gritar e de amor para cantar. Éramos viciados em remédios contra nostalgia, mas em tempos de vacas sóbrias, mascávamos um pouco de política. Gastávamos saliva para não entediar o dia e acalmar o coração que acelerava a cada repulsa não dita. Subimos a rua em direção a favela. Descemos a ruela procurando por Marighela. A caravana parecia mais um bloco de carnaval. Precisávamos de menos foliões, talvez mais verões. Pois voltamos pintados de amarelo, mas ainda sem concordarmos o que era certo. Pelo instinto arisco, voltamos rápido como um cometa. Na frente sólida como rocha e o atrás o resto de fumaça.

2 comentários:

Li disse...

gostei disso luka.
mas pintar-se de amarelo é só para os abitolados. ahaha.
beijo

Luísa disse...

tá lindo! e po, pintar-se de amarelo é vida