terça-feira, 15 de junho de 2010

Isso é uma emergência

Chego em casa e não tiro o sapato. Sinal de que ainda não estou ofialmente refugiado. Mesmo trancando a porta. Corro até as janelas procurando ver e não ver o que nem sei o que. Pego de uns dos maços espalhados estrategicamente pelo apartamento um cigarro. Procuro nos bolsos o isqueiro. Esvazio os dois e nada. Deus queria que eu não tenha o deixado no bar. O que mais preciso agora é de um cigarro. Pois ele bem sabe o que aconteceria. Eu seria capaz de me contorcer até enfim enlouquecer e voltar lá para resgatar meu isqueiro das mãos daquela mulher. Mesmo que ficar signifique deixar meus pulmões menos cinzas, meus dentes menos amarelos, minhas olheiras menos roxas e meu rosto menos vermelho.
Mas achei. Achei ele no fundo do bolso esquerdo e fiquei. Não importa o que esse apartamento pense de mim. Não importa o que esse isqueiro fale de mim. Pra encarar aquele desaforo em forma de silêncio prefiro inventar desculpas para a porta imóvel e impávida que me encarar e me envergonha.
Então liguei, peguei o telefone e liguei.
- Não preciso ir ai, quero só que você ousa algumas verdades.
- Luciano?
- Eu preciso contar para alguém a noite que tive hoje. Preciso botar isso pra fora com alguém.
- Mas eu estava com você não faz nem uma hora.
- Por isso mesmo. Você é a única pessoa que eu sabia que estava acordada.
- Eu não te pedi pra evitar de me ligar? Só se fosse algo realmente sério?
- Mas isso é uma emergência!
- Isso é pirraça!
- Isso é amor!
- ...
- É amor...

Um comentário:

Rê Coelho disse...

vejo acontecer.
tenho os olhos fixos, sem piscar.
vejo tudo acontecer diante dos meus olhos.
não posso impedir as imagens de se formarem diante de mim.
não consigo apagar da memória.
mesmo que não tenha acontecido.
aconteceu.