Já havia chegado em casa fazia horas. Já havia comido as duas fatias de pão recheadas com o almoço gelado de todo sábado. Já havia me livrado dos sapatos. Fumado dois cigarros. E já até havia ensaiado um telefonema para ti enquanto balançava de um lado pro outro jogado na rede. Quando resolvi tomar um banho antes de me sujar ainda mais.
Foi só então que vi o recado borrado de batom grosso no espelho do banheiro. Em vermelho morto li TE QUIS. Li com o rosto na altura das entrelinhas. Li como talvez nunca tenha percebido antes, mas no reflexo entendi um NÃO TE QUERO, em letras maiores ainda, como sei que você queria que eu lesse.
Entrei debaixo da ducha correndo a tempo de me confundir se havia alguma lágrima em meio a toda água. Me enxuguei. Não me vesti. Deitei preferindo não saber se havia alguma chave sua deixada para trás. E adivinha... Não havia.
Embora seu disco brega do Roberto Carlos nunca mais o vi. E graças a deus, ouvi.
Um comentário:
Papai adorava Roberto Carlos, ouvia se balançando na rede, a música vinda do toca-fitas, de olhos fechados. Nunca pensei que o brega Roberto ia me trazer boas lembranças. Mas é isso, o tempo.
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