Vi que minhas unhas estavam enormes, encardidas, sem condições até para roer. Vi que minha barba mal-feita já tinha ido embora e só sobrado um crescimento demográfico desordenado de pêlos logo abaixo de minhas olheiras. Vi meu rosto pelo espelho retrovisor enquanto dirigia. Estava pálido. Percebi também que meus olhos a muito não se moviam, estavam estáticos sem olhar para os lados, mortos. Era minha cabeça que girava lentamente para onde se fosse minha atenção sonâmbula. Havia um perceptível fechamento nas pálpebras e um ar de poeira baixada no meu olhar. Eu fazia um movimento panorâmico com o rosto e mesmo assim continuava a me encarar pelo canto do olho. Sai do túnel e minhas roupas perderam a mudança de estação, eu passava frio de bermuda e chinelo. Minhas roupas perderam a mudança de moda, pois nesse inverno a melancolia era tema nas novelas. E eu estava in, pela primeira vez in.
Eu estava a meses pensando em você sem me desligar. E esqueci do resto.
Não houve um único instante sem parar de pensar em você.
Até que nesse instante em que não pensei, eu pensei que não lembrava mais o porque pensava tanto em você. Aí começou a tocar aquela música do Roberto no rádio. E uma bobagem qualquer que você me disse ao acordar num dia qualquer ecoou na minha cabeça.
Foi o fim daquele único instante. Que nunca mais se repetiu.
"Não sei
Leia
Na minha camisa
Baby, baby
I love you
Baby, baby
I love you"
3 comentários:
Adorei Muito o texto..
seguindo..
bju
bonito
tem uma pegada triste, climática
lembrança/pensar
é morrer todos os dias...
Um Beijo
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