segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

O maior amor do mundo

Carlos a imaginava transando com seu amante. Podia calcular com seu conhecimento do tempo das coisas os exatos minutos em que ela estava transando com aquele filho da puta. Aquele filho da puta que deve ter esperado o momento certo para a convidar a sair. Aquele filho da puta que deve ter se declarado num dia em que Carlos perdera a cabeça. Aquele filho da puta escroto que deve ter a qualidade que Carlos não tem. Deve ter uma barriga menos redonda, um peito menos peludo.
E ela dava para ele sem culpa, achando que merece mais atenção do que Carlos dâ, que merece mais amor do que Carlos sente. E Carlos sente o maior amor do mundo. Ás vezes sente que sua cabeça não vai aguentar com tanta ilogicidade que é esse sentimento. Como quando se solta um "te amo" sem querer ouvir um "eu também" de volta. E na última noite que passaram juntos ele jurou amor eterno e ela jurou também sabendo que apesar das traições não era mentira.
Carlos a imaginava transando com seu amante todas as quintas-ferias entre dez pras dezoito e dezenove e meia. E isso fazia todo sentindo. O trânsito do Flamengo até em casa levaria vinte... vinte e cinco minutos contando com o cruzamento do Largo do Machado. Quarenta de academia. E mais uns cinco até em casa. Sobrava exatamente quarenta minutos. Não explicados nas últimas três semanas. Ela está dando para aquele filho da puta que Carlos nem sabe o nome, nem sabe da onde ela o conheceu, mas sabe que ele existe.
Mas mesmo depois dos quarenta minutos contatos de atraso, Carlos não perguntava por onde ela andava, como foi seu dia ou o que queria comer no jantar. Carlos preferia esconder o amor ferido e bancar apenas o marido indiferente ao casamento fálido. O maior amor do mundo assim se mantêm intácto. Protegido desse filho da puta. E dessa mulher não confiável que nunca soube do amor não demonstrado. Talvez nem ela e nem Carlos saibam que esse amor existe.

Nenhum comentário: