terça-feira, 26 de julho de 2011

Confissões de um rei enforcado

Era bom estar vivo. No pelo menos estar vivo depois de tudo que perdi. Não só anéis como partes inteiras de carne. Era o rei do meu cavalo. Mais indócil que uma mulher. Duro de reinar. Mas afirmo sem duvida que nunca, uma única vez, cai da cela. Ele era tudo que eu tinha, então não podia deixar de me agarrar. Um rei com cavalo é um rei sem reino. Não pude mais com ele. Minha cabeça já era vista como prémio nas ruas. O povo pode ser agressivo quando desnorteado. Quando não estou mais em seus corações. E em mim bateu foi um desespero. Quis sair correndo de tudo aquilo que possuía. E não foi nenhum um pouco fácil sair. Achava apenas que algum mal entendido havia acontecido, uma troca de palavras, que nos colocou como inimigos. E nessa situação o meu risco era de morte. Pois não se mata um reino. Nem que seja por egoísmo. O melhor foi fugir. O mais rápido possível para escapar da revolta.
Meu reino por um cavalo. Um cavalo para reinar. Concentro todo meu ímpeto para domá-lo. Não deixar que saísse do lugar. Teríamos que ficar paradas sob a sombra daquela mangueira. Cujo tronco era grosso de séculos. E seus galhos mais firmes que pontes de pedras. Num deles está pendurada a corda que não me deixa pegar um pouco de sol. A corda me enforca o pescoço no limite da cela do cavalo. Sem ele ali não iria mais respirar. Nunca mais pegaria um sol na pele. Nunca mais sair vivo daquele circulo de sombra. Alguns leves filetes de luz passavam pelas folhas. Era uma bela tarde. Eu quis ir para o sol. Mas não podia. O cavalo estava louco pra ir. Em pouco tempo não iria mais conseguir o convencer a ficar. Se não pela sombra. Pela sede ou fome. Deixei ele então ir para o sol antes que aquilo começasse a ficar chato demais. A vida poderia ficar chata demais ali.    

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