quinta-feira, 7 de junho de 2012


Aconteceu quando me sentei na privada em mais uma manhã de segunda e vi aquele parafuso solto do chuveiro caído no chão atrás da porta do boxe pela caralhagéssima vez nesse mês. Comecei a ouvir um tic tac. Alto. Eletrônico. Impossível de ignorar como um maldito despertador vindo de algum lugar do apartamento. Amaldiçoei o aparelho filho da puta e interrompi a merda que estava fazendo para enforcá-lo com minhas próprias mãos. Procurei por todo apartamento. Nada no quarto. Nada na sala. Nada na cozinha. E a inconfundabilidade do som continuava a mesma. Em claro e irritante som. Tic tac. Relógio de parede? Não. Timer do microondas? Não. Nem bateria de celular. Frustrado e puto. Liguei o som. Acendi um cigarro. E voltei pro banheiro. 
                                                              Esqueci o maldito parafuso no chão mais uma vez.
Aturei a merda do barulho até a hora de sair. Do corredor ainda dava pra escuta-lo em eco suraround. Com a lâmpada ainda queimada o lugar ficou parecendo uma brochante rave. Mesmo na rua o bagulho não sumia por completo. Seria possível que ninguém mais estava ouvindo?
Todos continuavam suas rotinas sem olhar para o alto com a mesma cara estúpida que a minha, procurando de onde vinha o som. Mas permaneciam pobres fudidos como sempre foram. Não estavam a beira da loucura como eu. Continuavam desbotados em tons berrantes. Pobres coitados. E eu com dinheiro para apenas um salgado, logo enjoei. E dispensei meu almoço. O fedor democrático da cidade estava mais forte. Havia um rato morto em frente ao ponto de ónibus e ninguém tinha coragem de fazer nada. Só torcer pro gávea chegar logo.
Para mim não houve mais dúvida. O mundo estava em contagem regressiva. Eu sabia. Eu ouvia. A cada segundo que passava era maior minha certeza de que tinha perdido um segundo de vida. Olhei de canto de olho para os lados e mais ninguém parecia ter percebido isso ainda. O rato imóvel ria de forma maldosa. Eu apenas sorri amarelo.
O som foi contando meus segundos até o trabalho. Não calou a boca nem no transito da ponte. Debochou do meu atraso. Ficou um pouco mais constante. Mais rápido. Mais perto de explodir. E foi então que esse som me trouxe a paz. Me tirou qualquer tédio que uma segunda-feira tem. Me fez descer do ônibus pra comprar cigarro sem hora pra chegar. Sem hora pra voltar pra casa. 

Tic tac.   

2 comentários:

Unknown disse...

Gostei demais.

Marina Marins disse...

Isso tem um gosto diferente. O que vc anda lendo?