terça-feira, 19 de novembro de 2013

Tempo

Eu fumava um cigarro apoiado na janela e ela ainda na cama de preguiça. Tinha acabado de me ter e queria provas de amor. Para curar o medo, a falta de coragem. Eu dei duas sem tirar e ele ainda me pede, que prometa, nunca me envolver com outra. Uma noite apenas enquanto estiver fora. Só não queria perder ou sequer dividir o mais importante. Segundo ela, meu cariño.
Em Buenos Aires a fumaça é mais quente, só filtros amarelos e chuvas de inverno.
- Prometer por que se você não vai cumprir?
Ela se cobriu ofendida. Começou a balbuciar que isso nunca acabava, que Madrid nunca fica pra trás.
- Você me pede pra prometer o que não pode cumprir! Por que não me pede logo pra ir contigo?
Ela se vira na cama e me dá as costas.
- Eu não to passando bem...
- Com ânsia novamente?
- Uhum...
Ela se encolheu e abraçou as pernas.
- Quer que eu vá na farmácia?
- Não. Apenas fica comigo e me acalma.
E não precisaria dizer mais nada, provar mais nada. Ela sempre dormia nos meus braços quando o estômago lhe doía.
- Você sabe que queria muito, mas não posso.
Respirei a fumaça fundo e joguei a guimba no telhado da fábrica vizinha. Enquanto os catadores de lixo esperavam o trem das onze e meia na estação. Confesso que não soube me despedir. Censurei um beijo na nuca que me fez tropeçar a caminho da porta, ela encolhida não viu.
- Já ta indo embora?
Não respondi. Ela então levantou a cabeça e olhou meus olhos.
- Mas tá tudo bem?
- Não, mas vai ficar...

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