Sentado na calçada, bem em frente a sua casa agora vazia ele começa a escrever suas cartas em folhas de caderno pouco amassadas. Começa sem ordem definida anteriormente, sem planejar o inicio e até o fim delas. Começa logo pelo meio mesmo, direto ao assunto, sem enrolar.
Estranhamente escrever aquelas intimidades em meio a carros acelerados e mães levando seus filhos a creche parecia mais adequado do que num quarto escuro e triste como suas cartas são. A felicidade das madames e seus cachorros mal educados criavam um belo contraste com aquele escritor solitário sentado na calçada. Como preto e branco, luz e sombra, o complemento de opostos.
E assim as cartas foram se acabando, ele só as endereçava a quem realmente tivesse algum significado e para sua surpresa foram escritas mais cartas do que esperava. Quando terminadas formaram uma pilha considerável, a maior de toda sua vida de cartas eletrônicas e mensagens por celular. Desta vez tudo que ele queria dizer estava naquela pilha, tudo que não fazia mais sentido guardar. Vocês não sabem o verdadeiro alivio que é escrever tudo isso, resolver toda a delicada confusão que ninguém se arrisca a resolver e o prazer negro de saber que se sentirão mal pelo o que fizeram a você.
Sim, independente do que ele planeja fazer esta noite, ainda há gozos na vida. Eles são maleáveis, não conseguem mudar o que está para acontecer. E vai acontecer...
Enviar as cartas não era problema, alguém as enviaria em respeito a ele, só precisava deixá-las em um lugar visível e ai estava o problema. Nunca pensara em continuar o que estava fazendo dentro de casa. Ali não era lugar para se guardar tamanha tristeza. Mas as cartas teriam que ficar ali e não poderiam ser achadas antes da hora. Era preciso arriscar...
E se alguém questionasse seus motivos, ele ficaria sem respostas. Talvez daí que venha a falta de duvidas que aquilo fosse pra ser feito. Pois há felicidade em sua vida, a caminhos a percorrer e amigos para amar. Porem este não é seu mundo, não há essência que lhe seja compatível. A pior de todas as depressões. Ele tinha medo de se sentir vazio, como estava agora.
O local era lindo, a pura natureza. Onde se sentia a vida transbordar e até o vendo falar, longe de tudo. Um local que nunca seria capas de testemunhar um desastre e mais uma vez esse contrate tornava tudo tão belo e certeiro. Para discordar com o natural um objeto de metal. Já engatilhado para o ato. Como nos filmes, bem poético.
Daqui para longe...
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