Antes mesmo do meu primeiro gole numa cerveja ou de sequer conhecer o cheiro da maconha eu já era um menino bem vivido, com histórias para contar, mas é claro que eu não sabia disso, eu nem sequer sabia o que significava o tal sexo oral que o secretaria havia feito no presidente Clinton na sala oval, para mim eles haviam conversado sobre sexo e uma nação inteira de puritanos haviam se revoltado com aquilo, quando a história do vestido sujo com sêmen saiu nos jornais minha inocência desabou. Entretanto as drogas ainda eram coisa de novela polémica.
O assunto veio a tona numa mesa de bar. Alias, vários assuntos surgem numa mesa de bar, alguns merecem uma folha em branco para serem escritos, outros merecem não sair de lá. Quem iria escrever sobre a diferença de esterco de cavalo e o da vaca? Vai saber... Mas esse saiu da minha memória como uma revelação até para mim mesmo. "Eu me droguei com doze anos de idade". E ao contar a história para quem estava na mesa me impressionava com a associação das coisas que eu senti com o barato que sinto hoje. Nunca havia ligado uma coisa a outra.
Tudo aconteceu aqui em casa mesmo (que feio menino!). Quando meu pai resolveu montar o escritório dele. Era preciso levantar paredes, derrubar janelas, abrir portas e lá estava eu arregaçando as mangas. Eu disse que era um menino vivido. Depois das paredes levantadas era preciso impermeabilizá-las. Rolinho na mão e a lata no chão. É claro que eu já ouvi falar de cola de sapateiro e todos essas coisas que meninos mau caracters usavam, mas não fazia a mínima ideia que aquele líquido estranho que estava nas minhas mãos também era usado para esse prazer. E assim eu pintei os tijolos da parede (como aqueles de churrasqueira), ventilador ligado para melhor circular o ar de dentro daquela saleta. Talvez não tinha pintado nem meio metro quadrado e comecei a ouvir uma música bem lá no fundo. Não uma música qualquer, mas sim a música tema do Titanic, com letra e tudo. Me sentindo o próprio Jack achei que ela vinha do vizinho, mas sabia que não, não era um acústica qualquer. Você me entende...
Mais meio metro quadrado depois o som do ventilador começou a entrar na ritmo da música (que nunca acabava). Era um Tum, tum, tum... Não tem como não rir lembrando disso hoje.
Depois de mais um tempo, meu pai deve ter sentido mudanças também e percebera o que aconteceu. Me aconselhou a ir pra fora e deitar um pouco. Ficamos assim, os dois deitados no banco de fora de casa morgados. Sim minha primeira onda e não pude aproveitar conscientemente. Na época me convenci de estar com muito sono e fome.....lariiiiiiii lariiiiiii... Sem entender bem, nos dias seguintes meu pai acabou o serviço sozinho sem querer expor o filho àquilo de novo. Fiquei contente com a folga e voltei a assistir TV, sem sofrer o impacto que aquele vestido sujo me causou.
Enfim, meus amigos naquele mesa falavam de maconha, de bala e do medo de partir para algo mais pesado, enquanto eu com meus doze anos já havia cheirado "cola". Me tornei o pivete da turma.
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