sábado, 20 de dezembro de 2008

A esquina

Ontem enquanto caminhava até o dentista, uma marcha de um condenado a tortura onde não há nomes para entregar. Ah! Como eu queria ter nomes para poder entregar e me livrar a cara, ou boca, de tal procedimento. Mas não é sobre isso que quero falar. O fato ocorrido foi na volta do dentista e tenho certeza que não estava sob efeito de nenhum sedativo. Azar o meu. Uma rapariga toda agasalhada e com uma sombrinha atravessava a rua em minha direção. Ok, confesso, adoro mulher agasalhada tanto quanto semi-nua, são duas faces da mesma moeda. Elas ficam mais elegantes, verdadeiras mães dos meus filhos.
E enquanto ela vinha, por mais que eu soubesse que ela iria passar direto, me bateu nostalgias de quando eu não era um só. Se é que vocês entendem meu eufemismo de quem não quer usar certas palavras, por puro ego. De quando eu a esperava na esquina e de longe a via chegando, se protegendo do frio com casacos bem charmosos. Eu já esboçava um sorriso bobo. “Lá vem minha garota”.
E é disso que sinto falta. Não é do carinho, do beijo, do sexo garantido todo fim de semana, da briga. É de esperar na esquina. E olha que nesse tempo eu nem fumava. Talvez por isso fume agora quando estou esperando algo. Diga lá Freud. Era a sensação de estar sozinho e de não estar também. A minha outra metade existia e só não existia como estava a caminho. Em alguns minutos serei um inteiro. Agora o eufemismo não foi proposital.

Um comentário:

calle disse...

Gostei desse texto.
nao sei.. mais parece bem diferente dos outros..