Não merecia ouvir isso depois de ir até tão longe de casa.
- Assim você me divide no meio.
Diz que na minha cara que ama aquele filho da puta e me pede para escolher?
-Não se faça de vítima.Não me faço.
- Você é o amante.E o amador apaixonado.
E isso é crime?Não.
Meu erro foi pedir para que juntasse suas coisas e fosse comigo. Um apartamento alugado nos esperava. Uma simples semana viajando que seja. Apenas vem comigo.- Marcos volta sexta.
E eu volto todo a dia a morder minha língua. Às vezes ela me escapa e acaba num corpo de uma desavisada. Mas tudo acaba em brigas, gozo e liberdade.
Solidão.
É a estação do meu rádio. E quando quero ver além do que ele me diz. Viajo.Cheguei um dia antes do Marcos.
- Eu não vim aqui só para te fuder na cama do seu noivo.
- Não. Veio aqui insistir mais um vez no que não duraria um mês. É um erro.
Mas eu não posso errar sozinho!
- Quem é você para garantir que não vale a pena tentar? Que chegou a hora de parar? Quem é esse cara?!Marcos, o bancário.
Homem nos moldes que Camilla amaria se apaixonar. Mas custa muito a acreditar que a noiva de Marcos possa ser uma Camilla feliz.Felicidade pouco tem haver com sonhos.
- Eu ainda sonho com você. - ela assoprou.
Tem mais haver com essas assombrações do passado. Como esperar do amanhã algo que não viveu ontem? Como ser feliz com o desconhecido? O futuro não reserva felicidade nem amor. Isso é conhecimento do passado. Apenas novidade.
- Mas o sonho só é bom porque acaba. Não demora e eu acordo ao lado dele.
Para Camilla a novidade sempre será melhor que viver qualquer passado. Vai saber se ela não está certa.
- Você tem razão. Precisamos decidir isso agora. Mas então que me dê um tempo para fumar um cigarro?
- Pensar?
- Não, apenas pra fumar um cigarro.
Fui até a janela para esconder minha cor. Quando sozinho no parapeito fiquei branco.
Trago.
Penso. Não na proposta, mas no lugar onde estava.O colchão no chão. Lamparina e um computador sem mesa. Nenhum móvel na casa.
Trago.
Só algumas latas de cerveja vazias de quando ainda estávamos festejando.Bebíamos, riamos. Na falsidade de quem não quer dizer "Eu ainda te amo" sem ter a certeza de que não soará fácil diante da tentadora vontade sádica de judiar de quem foi fraco.
Esperei ela beber quatro latas e disse.
Trago.
O resto das pessoas ainda devem estar na sala. Cheirando. Caindo no chão. Perdoando toda a perversão que Deus não pode impedir. Entorpecidos demais para saber quem foi e quem ficou. Lerdos demais para ir junto. Chapados demais para saber quem pecou e quem perdoou. Porque nada saiu do lugar.Nunca sai.
- Dorme comigo essa noite. Me ame tudo que você sentiu ontem e tudo que vai sentir amanhã. Pois hoje será o fim.- Ou?
- Fujo com você. Jogo tudo pro ar. E logo serão brigas, gozos e prisão. E Dessa vez, você vai ter que viver com o peso de ter acabado com a única oportunidade que eu tive de viver outra coisa que não essa merda de dor.
Que é o nosso amor.
- E eu que escolho?- Você sabe que não pode ser de outro jeito. Você precisa escolher hoje.
- Por que ele volta amanhã?
Não. Porque ela não vai voltar amanhã. Não vai mais voltar a sonhar.
Trago.
- Se eu escolher dormir aqui a dúvida de se foi real ou não vai me torturar ainda mais.E já começou.
- Você sabe quando estou fingindo.- Últimamente tenho duvidado disso.
- Você sabe o quanto no fundo quero.
- Você está bêbada Camilla.
- Eu finjo para não ter que fingir que não me importo.
- Por isso mesmo escolho a opção que você finge desconhecer.
- Qual?
Trago.
- Eu vou escolher transar com você. Vamos fingir que fazemos amor, como se nos despedisemos. Mas não. Vou embora, você fica e nossos dias ficaram parados. Meses, anos. Até que Marcos viaje novamente.Ela sabe que é verdade.
Jogo o cigarro fora.
2 comentários:
Cara...seu espaço carrega um olhar bastante interessante...Parece que seus textos são imagens em movimento...
bom ritmo, meio noir.
"Como esperar do amanhã algo que não viveu ontem? Como ser feliz com o desconhecido? O futuro não reserva felicidade nem amor. Isso é conhecimento do passado."
gostei deste trecho, e de outros tbm, mas este deu vontade de destacar
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