sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Metamorfose

Certa vez olhando dentro dos olhos dela eu me vi. Arredondado e bem colorido pela água que acumulava nas laterais e por todos os cílios. Eu havia dito aquilo que não sentia. Aquilo que nem se escrevia estava em extenso em suas pupilas pulsantes Era uma carne exposta. Era como o sangue que ainda não surgiu na ferida. Vi a minha natureza morta nos olhos vivos dela. Vi cada trago que dava em meu cigarro.
Certa manhã acordei de sonhos ainda mais intranqüilos dos que costumo ter. E ela estava ao meu lado abraçada por minhas quatro patas. Desisti de voltar a dormir com medo de não acordar mais ali. E atentei minhas antenas no sono dela. No subir e descer de seu peito exposto. Era como o roncar de uma criança. Era como a nossa escolha de existir. Vi como ficaria bem uma música com som de vitrola dentro desse quarto.
Certo dia arrumei as malas. Bati sua porta. Puxei pelas suas mãos. Fomos embora daqui. Para um lugar mais groove, um lugar mais longe, um lugar como seus olhos. Só não sabíamos se Recife ou Madrid. Então decidimos esperar o sol surgir para decidir.

Um comentário:

Lua Nova disse...

Esse me ganhou. Palavra por palavra ele é perfeito, encantador.
Parabéns.
Beijokas.