quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Jorge era esquisito e azarado. Negro, pobre, de cabeça raspada. Mas o que o tornava esquisito era o fato de conversar com um amigo imaginário. Azarado porque o amigo era surdo. Você lembra quando ele ainda não admitira sua falta de sorte e ficava aos berros no meio da rua com um poste? E o coitado nem tinha culpa. O gigante de cimento fixado no chão insistia que naquele ônibus ele não subiria. Era impossível para Jorge disfarçar a irritação. Aí quando num dia mais calmo decidiu aprender a língua do retardado, a outra que não o braille? E ninguém conseguiu entender o que diabos ele gesticula com as mãos. Mas vá negar que os postes da cidade pareceram entender?  Jorge agora anda calminho calminho, até fez outros novos amigos. E um deles é real! Não esqueça! fora o cachorro imaginário, Bob, e uma namorada, a árvore centenária do campo de São Bento.
Jorge não passou a semana discutindo a invasão do morro do alemão. Jorge não torceu para o fluminense no último jogo. Ou contra. Jorge não precisa ir ao banco pagar conta. No mundo de Jorge há apenas cama (na rua), comida (mendigada) e uma namorada (madura).
Jorge tinha uma sorte duvidosa de ser o mais azarado.

Um comentário:

Unknown disse...

Já vi muitos Jorges.
E escrevi
http://amaedocara.blogspot.com/2010/12/jorges-e-georgias.html
sobre eles(as).

Gd abraço