segunda-feira, 6 de junho de 2011

Desculpa pelo gato

O gato caiu. Caiu do quarto andar. Assim como quando roeu meu fone de ouvido ao meu lado da mesa sem eu perceber. Coloquei ali inteiro, quando precisei já estava partido. Gatos são furtivos. Até para morrer. Morrem assim sem ninguém desconfiar. E imagina meu desespero, o gato de outra pessoa morreu enquanto eu mandava mensagens no facebook. Malditas mensagens no facebook. Não dizem nada além do que não queremos dizer, nos pegam numa hora confusa e nos tornam públicos. Maldita acessibildiade.
Não vi a fresta da varanda. Não ouvi o choque com o chão. Apenas procurei o gato quando precisei e ele não estava mais ali. Na verdade, nem aqui entre nós. Como o gato não era meu imaginei que já estivesse na sua última vida, pois encontrei o corpo imóvel entre uma roda de pessoas em choque. O encarei por alguns minutos enquanto o vizinho buscava uma caixa de papelão e alguns sacos, ele não respirava. Era tão jovem para morrer de vez. Talvez quisesse assim. Ter sete vidas significa morrer sete vezes. E se isso dói como eu penso que dói, desistiria depois da segunda tentativa.
Mas não adiantaria nem pensar em morrer naquela hora. Em meio a cidade não havia espaço nem para enterrar um gato, quanto mais eu. Subi o elevador com a caixa nos braços. Tendo muito dificuldade. Os gatos são bem pesados quando mortos. Vivos eles devem se fazer de leves. Coloquei do lado da caixa de areia no área.
Achei melhor ligar para meu amigo e dar as notícias como um homem responsável faria. Assumindo erros e aguentando consequências. No terceiro toque eu já era uma criança em prantos. "Desculpe cara, me perdoa! Eu nem sei porque estava mandando aquelas mensagens, mas mandei e isso não se pode voltar atrás. Voltaria se pudesse, abriria mão de tudo se pudesse voltar. Me dá só uma chance de te provar que tudo vai ser diferente!"
"O que aconteceu?"
"Eu matei o gato!"
"O quê?!"
"Me perdoa! Me dá outra chance?"
"Outra chance de quê?!"
"De não cometer esse erro novamente. Eram só mensagens, não quis nada daquilo. Fui um idiota completo." 
"E o meu gato?!"
"Pode deixar que eu enterro."

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