A pressão de toda culpa que ocupo me expulsa de casa. Tudo é culpa adotada, tudo é culpa minha. Não tenho mais espaço nas ruas. Todas essas pessoas não dão passagem. Em ruas cada vez mais pequenas, em esquinas cada vez mais desertas. Temo o fim do asfalto. A poucos metros atrás ainda tinha alguma esperança.
E a rota de fuga que tomei não é segura. Nenhuma censura de rardais. Mão dupla sem acostamento. Às quatro da madrugada quando as luzes são amarelas piscantes. E a percepção já é peculiar, especifica dessas noites em que algo além do ar é inspirado. Algo além da vida. Algo duro como pedra.
E foi nessa noite em que ela me disse a mais doce das verdades. Me quer se nunca mais for ficar sozinha. E eu a tive melhor do que sozinha. Com um teto pendurado sobre minha cabeça. Com um teto perpetuado sobre minha cabeça.
Essa noite tem a me repetir por qualquer lua que seja. Piora nas cheias. Me parecem mais reais quando apenas sonho. Mas algumas vezes revivo mesmo. Passo a passo. Só engasgo no "sim", mas ainda saem por fim.
Cada vez em ruas mais distantes, cada vez mais vazias de sentido. A loucura me tomou no meio da avenida, quando ainda passavam muitos carros. Muitos deles pararam pra olhar. Se atrasaram um pouco por isso. Mas hoje já caminho sozinho.
Em meio a mata, onde até de noite tem vida. A barulheira é enorme. Alguns morrem, alguns matam. E eu não paro. A pressão de toda culpa que ocupo me expulsa da rua...
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