Planos para o futuro

Tomei mais um gole. Mesmo sabendo que isso só iria fazer tudo girar. Ainda mais... Servi outra dose.
Ao invés de ficar desnorteado, apagar na depressão, uma ideia se acendeu naquele bar embaçado. A solução. Havia uma maneira de eu retomar o controle. Eu descobri que havia uma maneira de sair de toda aquela melancolia. Esse tipo de tristeza com o tempo é inevitável, mas cansa... Eu precisava retomar o controle. Sair do lugar. Eu preciso me matar. Eu precisava tomar alguma decisão importante logo. Decidir um cainho. Vou me matar na próxima segunda-feira. Assim eu arrumo alguma coisa pra fazer. Dá tempo de deixar algumas coisas por escrito. Não cartas, apenas textos, mas com endereços bem certos. Tenho certeza que seriam lidos. Quem resistiria a essa oportunidade? Não é todo dia que você recebe uma carta de um morto. Vou falar atrocidades, declarar amores eternos e espalhar culpa para todos os lados. Assim todo mundo chora sem culpa.
Vou preparar alguma surpresa pra ela. Aparecer naquelas escadas, dando a cara a tapa. Levo comigo uma lista de exemplos que provam por A mais B que fomos felizes. Ela irá adorar me odiar de frente. E eu vou amar quando ela conseguir me irritar. Vai ser ótimo matar as saudades. Ela dirá que sabe que foi feliz, mas o que fazer agora com toda essa infelicidade? Deixa que levo comigo...
Tomei mais um gole. Decido que chega de bares, vou guardar um estoque inteiro em casa. Os dias estão contados. E não há cota a ser cumprida. Não há mais metas. Isso vai ser o paraíso. Poderia apagar de tanto beber, me drogar. Uma dose cavalo de adrenalina, álcool e ácido. Cair de uma janela. Alojar uma bala na cabeça. Serão tantos detalhes a serem acertados que preciso correr... se preparar para o fim. Como um animal, precisava resolver o que precisava resolver e ir para algum lugar apropriado para o fim. E isso tudo me soou tão deplorável. Somos todos animais, alguns não conseguem fingir o contrário. O bar girou lentamente ao meu redor, tão definitivo.
Tomei o último gole. O enjoou me bateu, sobiu a garganta. Precisava urgentemente resolver isso. Continuando daquele jeito não chegaria até segunda vivo. E a semana de trabalho será longa. Decidi ir para casa, aproveitar um maravilhoso cigarro, ter uma ótima noite de sono, como a tempos não tenho.