domingo, 16 de setembro de 2012

Lado A

Sempre quis mudar o mundo. Só achava que os mais exaltados queriam mudar o mundo pelos motivos errados. A ativista de saia curtinha uma vez me disse:
- Mais isso é tão lado A.
Fiquei ofendido.
Sou meio esquisito, irritado, jeito de viciado, indeciso e individualista, mas descordo que isso seja pessimista. Conforto. O que sinto é um puta ponto morto. Acho que só me restou mudar o mundo como vontade. Talvez ainda mais se remunerasse.
- Luka, ligou pra sua mãe hoje?
Toma banho pra tirar a poeira da passeata e dorme com minha camisa como se dona fosse. Já eu tento não pensar em amanhã. Me agarro no que posso. Ela me dá seu tempo, eu chamo de nosso. Mas não deixo de ser assim por ela. Não mudaria o mundo por ela. Nem por ninguém.
- Ah tá!
Ninguém paga minhas contas. Ninguém apaga minhas pontas.* Cultivamos o hábito de beber no mesmo copo. Intocados em cavernas. Discutindo som de música de brega. Temos tudo que precisamos para nos manter seguros. Certos de mudar o mundo.
- Na base do tapa! Na lata!
Aberto a possibilidades. De todas as idades. Logo se chega ao velho demais para a revolução. Daqui a pouco não se tem mais pulmão. É tempo de mudar de lado. Vem pra cá. Dorme pro lado de cá. Lado a, lado b. Lado b, lado a.