Hoje o dia começou triste. Quente e ensolarado no Rio de Janeiro. Acordei com um baque sem nome no peito que me fez perder o medo da solidão, me fez aceitar.
O cinegrafista morreu em meio a uma manifestação e minha tia me escreve preocupada. Lamenta a morte do meu colega de profissão, que linda era essa tarefa e que um deus não qualquer me guiasse. E eu chorei. Depois de oito meses acumulados. Entregue ao cansaço na saída da filmagem. Derramei duas ou três lágrimas. Chorei pelos medos que passei, pelas duas vezes que pensei que o policial ia atirar, pela vez que ele atirou. Por ter que esconder o rosto. Pelas consecutivas vezes que smeus olhos arderam e o catarro me entopiu a garganta. Pelas ordens dadas. Pelas revistas. Pelas duras. Por me tornarem um criminoso. Chorei também pelo cinegrafista morto, lamentei ainda mais por Luna, esse sim um conhecido de profissão, que agrediu manifestantes passionado pela morte do amigo. Não era mais por tomar um lado. Era por perder um pedaço. Chorei pensando no caso do dia de um preto espancado por nove brancos.
E só.
O choro durou por volta de uns cinco minutos na janela do ônibus indo em direção a Central do Brasil.
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