terça-feira, 15 de abril de 2014

Meados de dois mil e quatro

A maconha me salvou. Eu. Homem. Branco. De classe média. Fui salvo de me tornar um imbecil. Um desperdício de sentimentos. Digo isso porque, além das luzes brilhantes derivada dos canabinoides no globo ocular, a maconha me fez ver além, dos dezesseis pra cá a vida passou a ser diferente.
Ser maconheiro me tornou alvo de preconceitos e por esse único hábito fui inteiramente taxado por pessoas do meu convívio. enquanto outras entraram nele me dando exemplos concretos de que origem, idade, cor, sexo, tesão e vício não basta para definir ninguém. Ser maconheiro me criminalizou e me mostrou os reais motivos e intenções de se criminalizar alguém. Ser maconheiro me fez dialogar com vício o tempo inteiro, me fez me sentir livre dos males, me fez me sentir preso como um dependente. E eu vi isso refletido nos olhos de pinguços de bar, de cracudos, de todos os usuários.
A maconha me levou à favelas, a militância me fez voltar. A maconha me levou à delegacias. Fui fichado em uma, tomei tapa na cara em várias outras. A maconha me levou as ruas, a becos escuros para fumar e ao ativismo indo marchar.
Faz dez anos que traguei o primeiro baseado que me salvou. Da minha vidinha confortável de homem, branco de classe média. Achando que o problema são os outros.

Nenhum comentário: