quarta-feira, 10 de fevereiro de 2016

Rubia deu à luz às 23:41 do dia 25 de dezembro em uma sala hospitalar de parto humanizado. Porém, antes do teste de gravidez dar positivo eu nunca havia refletido sobre como gostaria que meu filho nascesse, homem não é levado à pensar nessas coisas, foi preciso Rubia me questionar sobre, chamar pra deitar na cama e ver um documentário sobre. E desde então foi pesquisa, leitura, filmes e, por fim, muita procura, pois precisávamos montar uma equipe (doula, médico obstetra e enfermeira obstetra) para realizar o parto que havíamos escolhido, o parto domiciliar.

Logo percebemos que entramos no meio de uma briga causada por diferenças de ideologia e extremismo. É equipe de enfermeiras que não gosta de médico. É médico que não gosta de doula. É doula que não gosta de tal médico. É enfermeira que não gosta de doula... E tudo que queríamos era apenas realizar um parto de acordo com nossas escolhas. Mas apesar de pesares, conseguimos mesmo assim montar uma equipe que nos deixou muito contentes. 
De início conhecemos uma doula que nos indicou outra pessoa, que nos indicou uma outra doula, tão jovem quanto nós e da mesma cidade. Rubia sentiu uma empatia imediata por ela. E eu também. Encontrar Camille foi nossa sorte em meio ao caos. Ela nos ajudou demais, sempre esteve disponível para dúvidas e medos, acrescentou informação e nos preparou para as mudanças de plano, porque planos sempre mudam. 
E o nosso mudou quando Rubia decidiu fazer um exame para detectar a bactéria streptococcus, uma amiga havia perdido o bebê por infecção ao passar pelo canal vaginal. Um caso raro, como ficamos sabendo mais tarde, e o exame nem é considerado obrigatório por alguns médicos, mas Rúbia naturalmente estava insegura. Ficou ainda mais quando saiu o resultado positivo, enviou mensagens aflita para toda a equipe e a resposta da enfermeira foi um seco comunicado que ela não faria mais o parto domiciliar. Não quis explicar mais nada por telefone, e também não poderia nos encontrar nos dias seguintes, mas se quiséssemos tal encontro o mesmo seria cobrardo como consulta. Deixou Rubia grávida de 38 semanas sem onde parir e sem dar nenhuma explicação. Em outras palavras, a profissional que havíamos contratado para fazer um parto HUMANIZADO tratou o parto do nosso filho apenas como um negócio perdido. Quem de fato foi humano foi a médica, a classe tão demonizada pelas enfermeiras, que nos recebeu para um consulta grátis no mesmo dia e no dia seguinte. Explicou com calma tudo que aquele resultado significava e acalmou Rubia. De fato o parto teria que ser feito num hospital para poder administrar um antibiótico horas antes do nascimento. Escolhemos então fazer na sala de parto humanizado do hospital da cidade. 
Theo nasceu de 42 semanas e 3 dias. Esperamos um sagitariano do começo de Dezembro e recebemos um copricorniano natalino pregador de peças. Foi uma vitória conseguir aguardar tanto tempo à mais do previsto com a pressão da família e até de amigos. A sensação era de "nós contra o mundo". Alguns nos tratavam como jovens inconseqüentes, que colocam a vida do filho em risco, usando argumentos sem nenhum estudo, e outros nos caçavam diariamente para questionar o porque ele ainda não nasceu. Até que perto da semana 43 Rubia optou por induzir o parto com misoprostol, uma pílula local que amadurece o colo do útero e acelera a liberação dos hormônios que iniciam o trabalho de parto. Em menos de 4 horas começaram as contrações, fortes e tinham intervalos de apenas segundos, sem dar um momento de descanso. Rubia quis ficar a maior parte do tempo no chuveiro apoiada em mim. Perguntava se iria doer ainda mais, procurava sem sucesso uma melhor posição e chorava alegando que não aguentaria mais, que queria algum remédio. O trabalho de parto avançou tão rápido que eu achei que iria nascer ali mesmo no quarto, quando finalmente a médica chegou e fomos direto para a sala de parto humanizado já com 9cm de dilatação. 
Rubia relaxou um pouco na banheira e logo quis ir para a banqueta ficar de cócoras. Eu a segurava, lhe dizia palavras de apoio e observava ela se entregando para a dor, entrando na tal "partolândia". Tornando-se cada minuto mais um animal seguindo seu instinto para parir, gritando e chamando pelo filho. As contrações ficaram mais espaçadas e ela pode até cochilar entre uma e outra, guardando energia para a fase expulsiva. Meia hora depois Theo nasceu. Veio ao mundo com 3,070 quilos e 50 cm. Pequeno e choroso. Foram cinco horas ao total o trabalho de parto e tudo foi tão rápido que nem deu tempo de aplicar o antibiótico, porém no dia seguinte um teste de sangue revelou que ele não tinha infecção alguma. Repousou no peito da mãe até o cordão parar de pulsar, quando eu o cortei. Foi examinado pela pediatra, que constou uma mucosa muito espessa que ele não estava dando conta de eliminar sozinho, ela indicou aspiração. Eu e Rubia aceitamos e logo após ele veio ao meu colo pela primeira vez. Fixou o olhar no meu assim que ouviu minha voz, a reconheceu. E desde então a reconhece com o mesmo olhar relaxado.
O video que segue aqui é justamente da fase final do trabalho de parto na banqueta até o nascimento. Levamos duas câmeras na esperança de registrar o máximo possível, porém essa foi minha última preocupação naquele dia. Graças à Camille que tirou fotos com o celular e alcançou a gopro para filmar, nem teríamos esse registro. 

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