Preciso de um assunto para escrever. Acho que cansei de falar da minha vida para ninguém, queria fazer um texto de verdade, uma coluna, minha opinião sobre um assunto. Por isso fui ao um bar arranjar um bom assunto de botequim. Mas tudo que arranjei foi mais historias para contar aqui e já cansei de contar historias que não me levam a nada.
Naquele bar tinha uma janela (ele se situava no segundo andar) talvez o melhor espaço de lá. Como é bom a sensação de ver tudo e ninguém te ver e mais engraçado ainda é a possibilidade de uma simples janela do segunda andar te dar esse poder tão prazeroso. Eu podia encarar qualquer pessoa, prestar atenção a todos os detalhes, secar mesmo, sem ser encarado de volta grosseiramente, sem ser mal entrepertado se é que existe uma maneira de ser bem interpretado. Encarar é encarar e ponto, não existe alternativas.
Vi todos os caloros de cinema que chegavam e que saiam do bar. Nós de cinema dominamos esse bar e, com certeza, o animamos como ninguém, dançando e cantando. Via as assanhadas se arrumando antes de subir a escada, sempre de olho num veterano e nos caloros ficamos com as sobras. Os mais espertos conseguiam comer quetinho, essa era a única alternativa que elas aceitavam, pois não queriam estragar suas chances com os veteranos. A promiscuidade é muito velha nesse mundo e não é preciso ser viajado para saber disso.
Já la dentro havia mesas de sinuca e muita musica para se dançar. Com o tempo percebi que olhar para dentro do bar também podia ser algo interessante. Pois no bar, mais que em todo lugar, as mascaras caem e todos fingem que não vêem, por que afinal a sua também cai. Isso acontece em todo lugar, até por que ninguém consegue tomar uma iniciativa ou decisão sem expor sua verdade e cada vez mais nessa fase da vida temos que tomar iniciativas mais frequentes. Talvez por isso aconteça uma compreensão de todos que passam por isso, assim todos fingem não ver. entretanto no bar há um pacto maior e tudo bem mais escancarado. Todos acreditam que seja por causa do cerveja, mas isso é piscologico resultado desse pacto.
No bar se cria coragem pra tudo. O envergonhado dança e por pior que seja ninguém liga e dança junto. Todos falam pelos cotovelos tudo que sempre quiseram falar para os outros, mesmo que nem dêem atenção (embora respondam) se sai mais aliviado dessas conversas. É quando se aproxima de quem te atrai, vai para o tudo ou nada e não se há vergonha de mostrar estampado no rosto a tristeza, a angustia, a safadeza.
E ninguém julga aqui. Pois somos todos iguais em desgraça.
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