O meu cinema mudo grita. Não sabe se comunicar de outra forma, mais discreto ou disfarçado. Meus gestos e caretas me entregam de maneira que me envergonham. Pois ela me decifra rápido demais, todos me decifram antes da hora, por mais que eu finja não perceber. Estrago assim toda a brincadeira que é cortejar, toda a diversão de paquerar por debaixo dos panos, sem ninguém mais saber. Ela logo perde o interesse por algo que não ocorre como deveria, larga mão antes da parte que essa sim é facíl para mim.
Meu cinema mudo sorri encantadoramente quando decide se calar. No momento que não tenta mais conquistar ninguém, decide assim se soltar e sem querer a ela encantar. Se torna bobo e ingénuo, como a vida deveria ser, muda como meu cinema. Com uma linda trilha sonora que de silenciosa nada tem.
Eu sei que não tenho tato para esse tipo de coisa e canalizo a culpa da minha insatisfatoria felicidade nisso, mas de certo poderia fazer isso com qualquer outra bobagem. Quanta bobagem irresistível! Quantas maneiras de culpar e me aliviar.
Quantos olhares furtivos, quantos sorrisos injustos comigo, quanta beleza irremediável. Fazem meu cinema mudo voltar a gritar. Lindas borboletas, se revezam nas tarefas de me aliviar e desesperar.
Toda noite passo bastante pó de arroz, pego meu chapéu de coco e minha bengala. Olho-me no espelho inclino a cabeço sobre os ombros, abro um largo sorriso e pisco varias vezes bem rápido, antes de sair. Ai ai, meu cinema mais cego que mudo.
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