sábado, 21 de abril de 2012

Lapa

Essa sua cara de quem vai descer na lapa não me engana. Vestida pra matar com o rostinho inclinado para o vento da janela não me engana. Não me parece estar indo para algum lugar. Me parece estar indo a alguém. Não paga taxi, não mede esforços para aguentar o balanço da condução rumo a um norte. A zona. Porém, certeza. Dos bares ela não passa. Quando cruzar os arcos ela vai saltar, acordando a todos com o choque do salto com o piso metálico. Vai, vai, vai me abandonar aqui sozinho. Em pleno sábado deprimido. Há lugares melhores para se ir. E não parar. Não se enganar. Essa sua cara não me engana. Sei que engole as dores como um trago e passa o batom para sorrir. Sei que disfarça as olheiras com base, se aquece com um chandon. Sai do camarim já embriagada. Vai pra rua dançar, fingir, gargalhar. Não obrigado. Pra quem já desceu na lapa dá pra saber, dá pra prever, dá pena dela. Pois a vida segue. E o ponto final desse ônibus é bem depois...
Você não vai a lugar algum com essa saia. Trate de ficar e não se levantar. Não vale a pena deixar o tempo passar desperdiçando amor numa mesa de bar. Isso tudo é preguiça de ir mais longe? Presa de sentir alguma emoção? Fica, calma, e me explica que ideia foi essa de matar a sede com saliva. Fingida. Deixa disso e mirra. Se ficar te levo daqui.